P1. Qual é a principal semelhança entre o cidadão médio e uma pessoa bem sucedida (Bezos, Jobs, Taleb, Goggins, Al Brooks, …)?
R1. Todos eles fracassam incontáveis vezes
P2. E qual a principal diferença?
R2. O que vem depois de cada fracasso.
Todas estas personalidades acima fracassaram incontáveis vezes. Incontáveis. Apesar disto, a maneira como eles viveram cada um destes episódios, e o que veio depois, foi o que os colocaram em destaque. Independente do que passou, fato é: todos continuamos fracassando diariamente, em diferentes áreas da vida (somos seres humanos).
Um segundo questionamento tem o seu lugar nesta ocasião: Por qual razão damos tamanha importância ao fracasso, como se fosse algo definitivo? Como se fosse um rótulo irremovível, tatuado em nossa testa? A explicação vem com um nome pouco comum entre nós, mas de efeito presente em cada circunstância de nossa vida: o Viés do Resultado (Outcome Bias – ref. [1]).
Este é o nome que os psicólogos dão à tendência emocional de se dar valor excessivo ao resultado obtido por determinada ação, em detrimento à valorização do esforço empregado, caminho percorrido ou da intenção do resultado. Efeito tal que muitas vezes provoca um medo excessivo de fracassar, como se a falha nos definisse enquanto pessoa, para sempre, em um caminho sem volta.
No excelente livro “Mindset” (não julgue o livro pelo infeliz nome escolhido – o livro é ótimo!), Carol Dweck classifica diferentes personalidades em duas principais classes: mentalidade fixa, ou de crescimento. Pessoas com mentalidade fixa em determinada àrea tendem a acreditar que habilidades, sucesso e fracasso são fixos, imutáveis pelo tempo e esforço. Por outro lado, a mentalidade de crescimento julga o fracasso como uma oportunidade de crescer com o erro, de aprender, e entende habilidades como adaptáveis ao longo da vida e esforço. Neste ponto, é preciso dizer em qual destas metades se encaixam as personalidades citadas no início deste artigo? David Googins falhou em duas “Hell Weeks” consecutivas, sendo aprovado em sua última tentativa possível. Steve Jobs foi expulso da própria companhia que fundou (Apple). Al Brooks falhou por incontáveis anos (ele estima que cerca de 10 anos) antes de seu sucesso no mercado financeiro. Aqui mais um ponto comum a estes vencedores: todos optaram pelo caminho de maior resistência (não desistir), e aprender com cada fracasso obtido, o que era exatamente o mais difícil a se fazer – é sempre muito mais fácil desistir e lamentar.
Diante dos fatos, eis a fórmula do insucesso:
INSUCESSO = MENTALIDADE FIXA + VIÉS DO RESULTADO + FRACASSOS SUCESSIVOS + CAMINHO DE MENOR RESISTÊNCIA.
Estes quatro itens compõe a caixa de ferramentas do cidadão médio, que não vai muito longe (infelizmente). Multiplique a equação acima por (-1) e terá o que é preciso fazer para se chegar lá (aonde quer que você queira chegar, esta é a “fórmula”).
Indivíduos bem sucedidos, portanto, cientes destes aspectos (viés do resultado e fracasso, principalmente), focam no processo. Se a saída obtida for indesejada (“fracasso”), ele toma-a como oportunidade de aprendizado e reformulação de ideias anteriormente implementadas por eles mesmo. Ray Dalio (outro a seguir o caminho dos fracassos sucessivos) descreve este processo de maneira cristalina em “Principios”, livro que recomendo a leitura.
Um passo a passo para o sucesso poderia ser descrito por: procedimento empírico planejado, com ajustes no meio do caminho, combinando a ciência do viés do resultado, com a mentalidade de crescimento e fracassos sucessivos. Esta estratégia é antifrágil, nos tornando mais fortes a cada evento estressor o qual seremos invariavelmente submetidos (fracassos).
Em conclusão, o fracasso PRECISA nos tornar mais fortes, e não deve ser focalizado (nossa mente deve estar voltada para o processo/intenções – vide ref. [2]). Com este procedimento, o fracasso se torna não somente algo bom, como vantajoso, que nos tornará mais e sábios para lidar com o próximo desafio, que certamente não tardará em chegar. Eu não estou dizendo que QUEREMOS fracassar, mas assumindo que IREMOS fracassar, inevitavelmente, em algum desafio futuro. E diante deste FATO, usá-lo para nos tornar mais fortes ao lidar com emoções e atitudes.
Cientes do próximo fracasso, é sábio ressignificá-lo e utilizar a diferença temporal entre o agora e o fracasso futuro para adaptar-se mentalmente, de modo a adquirir o máximo de aprendizado do que virá, e não se desmotivar. Entender que o fracasso é REQUISITO fundamental para o seu sucesso é um grande começo.
Aqui vai um alerta final: apesar do fracasso preceder o sucesso, é CRÍTICO que saibamos lidar com o mesmo. Quando de frente a uma falha, é preciso usar um tempo para analisá-la, de modo a compreender possíveis erros ou ingerencias de nossa parte para que não sejam repetidos. O fracasso, per si, não nos ajudará, a menos que saibamos interpretá-lo e corrigir questões críticas em nosso comportamento cotidiano (e isto dói bastante – é o percurso de maior resistência). No final, o caminho para o sucesso se torna um loop de incansáveis fracassos positivos, seguindo em direção à próxima falha e tendo em mente que:
“Se podes ser melhor do que és, é evidente que ainda não és tão bom como deves.” (Santo Agostinho)
Samir Martins
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CONTEÚDO ADICIONAL
Músicas para ouvir enquanto se lê o artigo:
- Don’t stop believin’ – Journey
- Heroes of Sand – Angra
- For Tomorrow – Shaman
- I want out – Helloween
Livros e textos que inspiraram o artigo:
- [1] Baron, J. e Hershey, J. C (1998). Outcome Bias in Decision Evaluation. Journal of Personality and Social Psychology.
- [2] Sezer, O. et. al. (2016). Overcoming the outcome bias: Making intentions matter. Organizational Behaviour and Human Decision Processes.
- [3] Mindset: a nova psicologia do sucesso, de Carol Dweck. Anteriormente publicado como “Por que algumas pessoas fazem sucesso e outras não”
- [4] Rápido e Devagar. Duas formas de pensar, de Daniel Kahneman
- [5] Princípios – Ray Dalio.
Indicações de jogos sobre o assunto
- Contra Hard Corps (Mega Drive – você fracassará miseravelmente! haha)
- Cuphead – Don’t deal with the devil
Filmes relacionados ao artigo
- Rudy
- Walt, antes do Mickey (ainda não assisti a este filme)