#2 – A Antifragilidade, nossa máquina e os exercícios físicos

“Se o motor de um carro se desgasta com o uso, porque devo submeter meu corpo aos exercícios físicos (provocando aumento de batimentos cardíacos, esforço muscular e consumo de energia)?”

Esta foi a pergunta que me fiz por um longo período, devidamente esclarecida por Nassim Taleb em “Antifrágil”. O Antifrágil, conceito presente em toda a natureza evolutiva de organismos vivos, que nos passa despercebido frequentemente.

Confundimos o Antifrágil com o robusto. Ao contrário do robusto, que não se beneficia de fatores estressores, o Antifrágil se torna mais forte ao se deparar com desafios, com obstáculos, com impactos e mais: precisa deles para sobreviver. Sem estes, o Antifrágil se definha e se desaparece do mapa.

Como exemplos comparativos, cito um manipulador robótico capaz de erguer 10kg e um braço humano. O manipulador, robusto, independente do número de vezes que ergue o peso, nunca poderá erguer 15kg ou 20kg, pois esta tarefa está além de sua capacidade construtiva. Por outro lado, o Antifrágil braço humano, que pode começar erguendo um peso mínimo, se fortalece quando defronte ao fator estressor (força peso aplicada), de modo que gradativamente possa erguer muito mais que os 10kgs inicialmente propostos.

O mesmo ocorre com nosso coração a cada exercício aeróbico que executamos. Por ser Antifrágil, a cada corrida, menos batidas por minutos são necessárias para suprir a demanda por sangue e energia oriunda de nossos músculos. Por óbvio, há sempre um ponto de ruptura no Antifrágil, o qual pode ser extendido à medida em que o submetemos a testes e retestes próximos ao limite de sua capacidade.

Aqui cabe mencionar a histórica técnica de Mitridização, processo pelo qual seres vivos (humanos, inclusive) podem se tornar imunes a diferentes tipos de venenos, se devidamente dessensibilizados pela injeção de doses crescentes do mesmo. É o Antifrágil se beneficiando do caos. No contexto de exercícios físicos, ao se exercitar você provoca danos diretos aos músculos, de forma que seu corpo passa a entender que se faz necessário produzir um músculo mais resistente, capaz de aguentar a próxima “dose de veneno”. E assim se formam os músculos cada vez mais fortalecidos.

Mudando parcialmente o cerne da questão, vamos supor que você, leitor, não se interesse pelo seu bem estar físico. Mas se estiver lendo até aqui deve se interessar pelo conhecimento. Dados científicos (vide referências): nosso cérebro, que pesa entre 1% a 2% do nosso peso corporal, consome cerca de 20% da energia que produzimos diariamente. Acho que aqui você já deve ter entendido a mensagem: se não nos exercitamos hoje, amanhã produziremos menos energia (o corpo humano é Antifrágil) e nossa capacidade de raciocínio cai. Por outro lado, aprimoramento físico induz à clareza mental e capacidade de raciocínio, como confirmado também pelas referências abaixo citadas.

De modo contrastante, o mesmo cérebro que consome um quinto da energia diária produzida é quem vai tentar a todo custo dizimar sua vontade de se exercitar, na tentativa de poupar energia. Desta forma, exercitar-se parece não ser uma necessidade primária, nem mesmo prazeroso (antes da execução do exercício), enquanto a verdade é exatamente o oposto. Como precisamos fazer o que é certo mesmo quando não desejamos fazer (a tal da disciplina), executar o que foi planejado a priori é o caminho a se seguir. É preciso estar ciente que seu cérebro tentará fazer com que você siga o caminho de menor resistência, que desista e não se exercite.

Não digo aqui que você deva ser um atleta de alta performance (você poder ser um, caso queira). O que posso afirmar é que, pela definição de nossa natureza Antifrágil, não deveríamos vegetar. Se assim o fizermos, é preciso estar ciente das consequências (atrofia muscular, óssea e cerebral) e assumir possíveis complicações (e prováveis) sem lamentações.

Para tentar te fazer desistir (não gastar energia), sua mente irá te encher de desculpas. Falta tempo? Durma menos. Largue o celular (ou leve-o consigo para a corrida/caminhada). Deixe o video-game de lado. Falta interesse? Não se engane, deixe isto claro a você mesmo e esteja ciente que só você pode fazer algo a respeito. A Antifragilidade se passa também em nosso cérebro, e a força de vontade precisa também ser submetida a fatores estressores para se fortalecer e se preparar para desafios que a vida naturalmente o apresentará.

 

“Máquinas: use-as e perca-as; organismos: use-os ou perca-os.”    (Frano Barović)

 

Samir Martins

 

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CONTEÚDO ADICIONAL

Músicas para ouvir enquanto se lê o artigo:

  • All my life (Foo Fighters)
  • Burning Heart – Survivor (enquanto estiver exercitando, principalmente)
  • Island in the sun – Weezer
 
  •  

Livros e textos que inspiraram o artigo:

 

Indicações de jogos sobre o assunto

  • Final Fantasy VII
  • Chrono Trigger
  • Skies of Arcadia
  • Qualquer outro RPG que utiliza sistemas de levelling por batalhas

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