#7 – A matemática da vida – ou quando menos é mais

Há um bom tempo venho refletindo sobre a vida, decisões, escolhas ativas ou passivas (feitas por outros, para você), e com estas reflexões surgiu o desejo de escrever sobre o que eu considero ser a matemática da vida em sua forma simplificada. Por partes chegaremos até a imagem que é capa deste artigo.

Considere o momento de seu nascimento, em que T_nasc é adicionado ao gráfico abaixo. Naquele momento você ainda não tem nenhuma possibilidade de escolha. Seus pais escolhem o momento em que sua fralda será trocada e o momento em que você será alimentado. Seu T_life (definido aqui como a diferença temporal entre o agora – T_now – e o momento de seu nascimento – T_nasc) é curto até então, e o espaço por você explorado se resume a um quarto de hospital e um berço – nada mais. Nenhuma escolha possível (zero, representado pelo ponto), pouco espaço explorado e T_life mínimo.

O tempo passa e o indivíduo (você) atinge a adolescência. Neste momento algumas coisas mudam de figura: apesar de ninguém conseguir determinar o momento de sua morte, você passa a ter a noção que seu tempo aqui é limitado (talvez pela perda de um ente querido). Desta forma, adicionamos o T_morte ao eixo das absicissas (figura abaixo).

Neste momento você passa a ter o poder de decisão sobre si próprio e vive as consequêncidas das decisões: jogar futebol ou basquete?  Ler, ou jogar video game? Fazer novas amizades, ou cultivar com profundidade as poucas amizades do colégio? Se envolver em um mundo de drogas ou se manter saudável? Ir ao circo ou sair para a boate?

São infinitas escolhas possíveis (ou, pelo menos, um número consideravelmente alto), e somente uma certeza: você não conseguirá abranger todo o universo de possibilidades ao mesmo tempo. Seu espaço e tempo são limitados. Ou seja: a partir daqui, é sua responsabilidade escolher o caminho a ser trilhado (para o leitor interessado, recomendo aprofundar na psicologia do indivíduo de Alfred Adler – uma referência introdutória no final deste artigo).

Como você já deve ter observado, nosso tempo/espaço (a área compreendida entre as curvas que compõem o símbolo infinito) é limitado pelas nossas escolhas finitas, em infinitas possibilidades, ao passo que nossa vida pode ser definida matematicamente como todo o espaço E_vida que ocupamos (área dentro do “infinito”), no intervalo T_life.

O leitor não matemático/engenheiro pode pular este parágrafo se desejar. Um exercício interessante é o cômputo, via diferença de integrais e teorema fundamental do cálculo, da equação do espaço em função do tempo que define o E_vida, usando senoides defasadas no tempo. Atribuindo valores a T_nasc e considerando T_morte uma variável indefinida, este exercício nos fornece boas razões de escolhas, fornecendo uma estimativa de quanto de nossa vida determinada atividade está consumindo.

Ao final de sua vida, este será o resultado:

Teremos aqui, portanto, todo o espaço que ocupamos no universo, no tempo em que estivemos aqui, compostos de nossas escolhas perante as infinitas possibilidades que nos foram apresentadas. A área e formato da curva mudam, mas o conceito permanece intacto. Nossas opções estarão entre:

i) um maior número de “amigos” OU um número reduzido de verdadeiros irmãos;


ii) um número elevado de “amores” OU uma família sólida;


iii) executor multi-tarefas OU exímio centralizado;


e por aí vai…

Invariavelmente iremos passar por momentos em que precisaremos fazer concessões, e estas irão definir o nosso percurso. Não há um certo\errado, mas há o seu caminho. E, qualquer que ele seja, será munido de boas e más consequências, de forma que você precisa estar preparado. Esteja ciente, ainda, que não realizar uma opção mediante um dilema é idêntico a selecionar a “não-escolha”, e que incluir novas atividades/tarefas em sua rotina necessariamente excluirá alguma coisa de sua vida (ou a tornará menos produtiva).

Se diverte enquanto deveria estar trabalhando? Haverá menos tempo para o sono ou para a família. Executa tarefas que considera sem valor? Não sobrará tempo para o que lhe é verdadeiramente caro. No final, você pode até correr de suas opções, mas não das consequências de decidir não escolher, que baterão tão mais forte à sua porta quanto você chegue perto de T_morte. Conceito simples, mas de complexa aplicação na vida prática.

Para concluir de forma resumida, estas são as seguintes lições que deixo neste escrito:

– Que seu tempo aqui é limitado (de novo eu, falando sobre isto).
– Que você tem infinitas escolhas possíveis.
– Que você não pode escolher todas, simultaneamente, sob pena de não ter escolhido nenhuma, verdadeiramente.
– Que a escolha se dará, majoritariamente, entre o numeroso (mas superficial) e o estrito (mas intenso).

“Follow your steps and you will find
The unknown ways are on your mind
Need nothing else than just your pride
To get there

So carry on, there’s a meaning to life
Which someday we may find
Carry on, it’s time to forget
The remains from the past”

Carry on – Angra


Samir

 

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CONTEÚDO ADICIONAL

Músicas para ouvir enquanto se lê o artigo:

  • Carry On – Angra
  • Perdendo Dentes – Pato Fu
  • Sobre o tempo – Pato Fu
  • Ouro de Tolo – Raul Seixas
  • Eagle Fly Free – Shaman
  • Fairy Tale – Shaman
 

Livros e textos que inspiraram o artigo:

  • A única coisa – Gary W. Keller
  • Essencialismo – Greg McKeown
  • A coragem de não agradar – Fumitake Koga e Ichiro Kishimi
 

Indicações de jogos relacionados ao tema

  • Life is Strange
  • Chrono Trigger (espetacular!)
  • To the moon (incrível! e não tão grande. Recomendo toda a série)
 

Filmes relacionados ao artigo

  • Todos os da série Matrix
  • Todos os da série Star Wars

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